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Epilepsia Refratária e o tratamento com a maconha medicinal

Existem tratamentos mesmo para as epilepsias mais difíceis (Epilepsia Refratária), e é exatamente nesses casos que a maconha medicinal vem trazendo resultados surpreendentes.

A epilepsia é uma condição que ocorre em 1 a cada 100 pessoas, atingindo mais de 65 milhões de pessoas no mundo todo.

Uma dessas pessoas pode ser você, seu filho, um familiar próximo, ou mesmo um amigo querido.

Quem conhece essa condição de perto sabe das dificuldades que afetam a qualidade de vida do portador e dos que estão à sua volta.

Os tratamentos para epilepsia buscam beneficiar a vida dos portadores e pessoas próximas, possibilitando melhorar radicalmente suas condições.

Acompanhe o artigo e confira todas as informações, pesquisas relevantes e principais dados sobre Epilepsia Refratária e seu tratamento com maconha medicinal.

O que é Epilepsia Refratária?

Epilepsia é uma condição em que a pessoa possui um distúrbio neurológico, fazendo com que ocorra frequentes convulsões, onde há surtos na atividade elétrica do cérebro.

Essa condição é caracterizada por um distúrbio cerebral complexo que envolve descargas elétricas cerebrais anormais, excessivas e sincrônicas dos neurônios.

Existem dois tipos principais de convulsões: as convulsões generalizadas, que  afetam todo o cérebro, e as convulsões parciais, que afetam apenas uma parte do cérebro como o próprio nome diz.

Uma convulsão leve pode ser difícil de reconhecer. Pode durar alguns segundos durante os quais a pessoa não tem consciência.

Convulsões mais fortes podem causar espasmos e contrações musculares incontroláveis, e podem durar de alguns segundos a vários minutos.

Qualquer pessoa pode desenvolver epilepsia, mas é mais comum em crianças pequenas e adultos mais velhos, sendo mais recorrente no gênero masculino.

Quando falamos em Epilepsia Refratária, queremos dizer que essa condição é de difícil tratamento e, em geral, possui evolução desfavorável, ou seja, que tende a piorar com o passar dos anos.

Desse modo, uma criança é considerada portadora dessa doença quando demonstra ao menos uma crise epiléptica por mês, em um período de 2 anos, sendo que nesse período não há melhora dos sintomas mesmo com o uso de 3 diferentes medicamentos.

A epilepsia refratária em crianças é ainda mais desafiadora e prejudicial, já que impacta o sistema nervoso que ainda está em desenvolvimento.

Lesões da epilepsia refratária

Em geral, as epilepsias que causam lesões são as apresentam maior dificuldade de tratamento. (Fonte: Pesquisa FAPESP)

O diagnóstico precoce dessa condição permite que o tratamento seja iniciado e que os efeitos das crises na criança sejam menores.

Mas por que a Epilepsia Refratária acontece?

Embora a causa da epilepsia, para mais de 50% dos portadores, seja desconhecida, existem várias razões pelas quais ela pode ocorrer dependendo do estágio da vida:

Causas comuns da epilepsia em recém nascidos

  • Falta de oxigênio no parto;
  • Injúrias no cérebro durante o parto;
  • Desenvolvimento anormal do cérebro;
  • Desordens metabólicas.

Causas comuns da epilepsia em crianças

  • Febre;
  • Infecções;
  • Traumas na cabeça;
  • Tumores no cérebro;
  • Desordens genéticas;
  • Cicatrizes no cérebro.

Causas comuns da epilepsia em adultos

  • Traumas na cabeça;
  • Tumores no cérebro;
  • Cicatrizes no cérebro;
  • Desenvolvimento anormal do cérebro;
  • Acidente vascular encefálico (mais comum em idosos).

Maconha medicinal no tratamento de Epilepsia Refratária

Talvez você pense que o uso da maconha para o tratamento de doenças seja algo novo, e até disruptivo, mas isso não é verdade.

Às vezes nos esquecemos que antes dos medicamentos tudo o que tínhamos eram as plantas.

É exatamente isso o que relata algumas revisões científicas sobre o uso ancestral da maconha medicinal, sendo que o registro mais antigo sobre o assunto foi em 2.700 aC.na China.

Um pouco mais à frente, em 1.800 aC., foram descobertos anotações de médicos sumérios e acadianos mencionando uma planta medicinal, muito provavelmente a maconha, para tratar uma variedade de doenças, incluindo convulsões noturnas.

Na literatura árabe e islâmica também foram encontrados registros do uso específico da Cannabis como tratamento para convulsões e epilepsia.

A maconha possui esse efeito medicinal porque apresenta canabinóides, como canabidiol (CDB) e o tetrahidrocanabinol (THC) que possuem efeitos anticonvulsivantes.

Estudos mostram que o CBD pode ter ações semelhantes à substância anandamida, a qual é um endocanabinoide, ou seja, produzida naturalmente em nosso organismo.

Dessa forma, o CBD regula as descargas de neurotransmissores nos neurônios pré-sinápticos, diminuindo as convulsões na frequência e intensidade, e não causando efeitos psicoativos significativos.

Já o THC possui efeito direto no sistema nervoso central, regulando também a sinapse e colaborando para a redução das crises convulsivas.

No vídeo abaixo você pode ver de maneira mais ilustrativa como ocorre a epilepsia e como a maconha medicinal pode ajudar em seu tratamento:

Estudos científicos sobre o uso de maconha medicinal para Epilepsia Refratária

A primeira descrição moderna detalhada da utilidade dos produtos à base de cannabis como medicação anticonvulsiva foi publicada em 1843 por W.B. O’Shaughnessy, médico e professor de Química e Matéria Médica na Faculdade de Medicina de Calcutá.

Depois de testar os efeitos comportamentais de várias preparações de Cannabis indica em em pacientes com diferentes distúrbios, constando efeitos marcantes de anticonvulsivantes em uma menina de 40 dias com crises convulsivas recorrentes.

Posteriormente, observações semelhantes foram feitas por outros médicos e cientistas, indicando os efeitos contra convulsões da maconha medicinal.

No entanto, foi mais recentemente que o interesse da população e comunidade médica aumentou acerca da maconha medicinal no tratamento da epilepsia refratária.

Dessa forma, o primeiro estudo randomizado, controlado com placebo e duplo-cego sobre o CBD na síndrome de Dravet foi publicado no New England Journal of Medicine em maio de 2017.

Isso significa que o estudo tem alto valor científico e que seus resultados podem ser considerados como confiáveis.

Neste estudo , conduzidos em 23 centros nos EUA e na Europa, 120 pacientes com diagnóstico estabelecido de síndrome de Dravet (idade média de aproximadamente 10 anos) foram randomizados para receber placebo (substância sem valor medicinal) ou 20 mg/kg /dia de CBD em duas administrações diárias divididas .

A duração do tratamento foi de 14 semanas, e a frequência mensal de convulsões convulsivas diminuiu de 12,4 para 5,9 no grupo que recebeu com CBD, e de 14,9 para 14,1 no grupo placebo.

Além disso, a proporção de pacientes com redução de maior ou igual 50% na frequência de crises convulsivas foi de 43% no grupo com CBD em comparação com 27% no grupo placebo.

Outro resultado impressionante foi o de que três pacientes (5%) ficaram livres de crises durante o período de tratamento no grupo com CBD, em comparação com nenhum no grupo placebo.

Esses resultados demonstram o valor da maconha medicinal na epilepsia refratária, que nesse caso é a síndrome de Dravet, em adição a tratamento convencional da síndrome.

Estudos no Brasil sobre o uso de maconha medicinal para Epilepsia Refratária

No Brasil, o Professor Elisaldo Carlini, da UNIFESP apresentou, através de um estudo, que pacientes adultos tiveram cessão ou redução das convulsões pelo uso do canabinóide CBD.

Em 2015 foi apresentado no III Congresso Internacional e XVIII Brasileiro da ABENEPI (Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e Profissões Afins) estudo com 38 pessoas com Epilepsia Refratária que fazem uso de óleo de cannabis rico em CBD.

O trabalho apresentado pelos Dr.Paulo Fleury, Prof. Renato Malcher e Dr. Leandro Ramires, demonstrou diminuição da frequência e intensidade das convulsões na maioria dos pacientes.

Além desses estudos, vale a pena olhar os depoimentos de pessoas que realmente testaram a maconha medicinal para tratar diferentes tipos de epilepsia.

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