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Provavelmente, você já ouviu falar da maconha, aquela conhecida planta, famosa por seus efeitos psicoativos. Mas alguma vez, você já se questionou qual o número de pessoas que utilizam diariamente a Cannabis para o tratamento de alguma doença?

Estima-se que no mundo, aproximadamente 183 milhões de pessoas façam uso da maconha para fins medicinais, isso foi o que mostrou um levantamento, feito pela UNODC, órgão das nações unidas que discute as políticas de drogas.

Todos esses consumidores, estão espalhados por cerca de 135 países, que somados representam cerca de 92% da população do mundo inteiro.

Então, se você é uma dessas pessoas, você não está sozinho. Mas caso esse não seja o caso, da pra ter noção da importância que o seu uso controlado representa para a população mundial, certo

Para os que já conhecem sobre o tema, esse artigo vai ser uma boa maneira de melhorar a compreensão sobre o assunto e conhecer um pouco mais sobre os detalhes e a importância do uso da maconha para fins medicinais.

Caso você ainda não tenha muito conhecimento, mas têm interesse em saber mais sobre os efeitos terapêuticos da planta, visite este link e entenda sobre todos os benefícios que a Cannabis pode trazer.

O objetivo desse artigo é abordar o panorama da Cannabis no Brasil e no mundo, bem como trazer exemplo dos benefícios de seu medicinal para o tratamento de algumas doenças. Através de uma abordagem simples e esclarecedora buscamos desmistificar vários tabus que são impostos pela sociedade quando o assunto é o uso medicinal da maconha.

Mas quais são as principais formas de consumo?

Existem diversas alternativas para o consumo da maconha, algumas que podem trazer os efeitos positivos mas que também são prejudiciais, como é o caso do fumo. E outras que são maneiras muito mais saudáveis, como por exemplo: o chá, vaporização, sprays, extratos, óleos que são extraídos da planta e muito mais.

A forma mais comum e menos nociva é a partir do extrato líquido obtido da cannabis, dele são extraídos seus principais componentes, como por exemplo o THC e o CBD.

Esses compostos químicos da planta conhecidos como canabinóides são associados a receptores específicos pertencentes a vias cerebrais e rotas do nosso sistema fisiológico, permitindo que eles exerçam funções específicas quando absorvidos pelo nosso organismo. Veja mais sobre os canabinóides a seguir:

Os diferentes componentes medicinais da maconha

Uma das características principais das espécies do gênero cannabis é o acúmulo de substâncias terpeno-fenólicas nos tricomas de suas flores, os famosos canabinóides.

Mais de 70 canabinóides já foram registrados e isolados a partir de plantas de Cannabis, os dois canabinóides com maior potencial de uso e mais estudos relacionados são o  Δ9-tetrahidrocannabinol, conhecido como THC e o canabidiol CBD.

Os canabinóides manifestam seu efeito ao interagir com receptores químicos específicos encontrados nas células do nosso corpo. Os dois receptores químicos mais estudados são o CB1 que é encontrado no cérebro e o CB2 que está associado ao nosso sistema imune.

As principais diferenças entre THC e CBD

cannabis tem dois princípios ativos principais, são eles: THC e o CBD. Muito tem sido estudado a respeito desses componentes. Hoje em dia já é possível diferenciá-los por seus diferentes efeitos que ajudam a combater os sintomas de muitas doenças. Nessa seção do artigo vamos diferenciá-los e explicaremos melhor suas aplicações medicinais.

Vale ressaltar, que tanto o THC quanto o CBD atuam no tratamento dos sintomas que são causados por alguma doença e não no tratamento da doença por si só. Dessa forma, entende-se que os medicamentos a base de Cannabis são complementares e devem ser utilizados em conjunto com outras técnicas e procedimentos médicos.

O tetrahidrocanabinol é o princípio ativo mais famoso da maconha, é aquele que “dá o barato”, além de seus efeitos psicoativos o THC também possui importantes propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, que estimulam o apetite, dentre outras.

O THC, um dos principais compostos da maconha, é um excelente princípio ativo utilizado na fabricação de drogas para usos terapêuticos, com potencial para o desenvolvimento de estudos e avanços no tratamento de doenças como o câncer, HIV e glaucoma.

O canabidiol CBD é uma substância química que representa cerca de 40% dos extrativos da planta. Diferente do THC, o CBD não tem efeito psicoativo, ele utiliza vias fisiológicas e se liga a receptores específicos diferentes dos quais o THC utiliza.

Muitos estudos relacionam o canabidiol com partes do nosso sistema imune responsáveis pela manifestação de importantes efeitos terapêuticos. Dentre os usos mais comuns do CBD, estão os relacionados com a sua atividade anticonvulsivante, efeitos anti-inflamatórios, antipsicóticos, ansiolíticos e antitumorais.

Principais usos do CBD e THC no tratamento de doenças:

CBD

  • epilepsia;
  • esclerose múltipla;
  • esquizofrenia;
  • dores crônicas.

THC

  • esclerose múltipla;
  • síndrome de Tourette;
  • asma;
  • glaucoma.

A maconha medicinal no tratamento de doenças

Tratamento de dores crônica

Buscando alternativas para o tratamento das dores crônicas, a maconha medicinal vem se tornando uma alternativa eficiente, sendo essa uma das maiores causas do aumento do uso medicinal da planta. Muitos estudos comprovaram a eficiência da Cannabis para o tratamento de dores crônicas.

Em uma revisão de literatura publicada em 2018 com objetivo de comparar os efeitos de canabinóides e medicamentos tradicionais no tratamento de dores crônicas, demonstrou que os canabinóides foram 40% mais eficientes para a redução de dor do que a medicação tradicional.

Câncer

Pacientes diagnosticados com câncer, geralmente são submetidos a inúmeras seções de quimioterapia. O THC tem sido muito eficiente no tratamento dos efeitos colaterais mais comuns causados por essas seções, que  incluem: náuseas, vômitos, tonturas, fraquezas e falta de apetite.

Em estudos envolvendo a comparação do uso de canabinóides e placebo para a diminuição das náuseas e vômitos causados pela quimioterapia 6462 participantes foram avaliados, e muitos demonstraram melhora significativa em termos de diminuição dos sintomas.

Neste estudo, foi possível perceber uma melhora significativa no tratamento das náuseas e vômitos, mas já para as tonturas e fraquezas a maconha medicinal não se mostrou tão eficiente.

No entanto, a melhoria na qualidade de vida dos pacientes submetidos ao experimento foi excelente, o que nos permite afirmar que a maconha pode ser recomendada para o alívio desses sintomas.

Esclerose múltipla

O nabiximol, medicamento feito com base nos canabinóides THC e CBD vem sendo utilizado no tratamento dos sintomas da esclerose múltipla. O medicamento tem propriedades anti-inflamatórias que é característica dos canabinóides e que são de grande auxílio para o tratamento de doenças autoimunes, como é o caso da esclerose.

Sua efetividade foi comprovada em estudos que encontraram evidências da melhora do quadro sintomático dos pacientes portadores da doença, ocorreu uma diminuição da severidade dos sintomas, que incluem: espasmos musculares, dores, tremores e rigidez.

Distúrbios do sono

O dronabinol, feito à base de THC se mostrou muito eficiente  para o tratamento de distúrbios do sono quando comparado com o placebo em uma pesquisa. O uso de Cannabis contribui para noites melhores de sono, fazendo com que a pessoa fique mais relaxada, esqueça seus problemas e possa dormir com tranquilidade.

Aumento do apetite e ganho de peso

Pesquisas sobre os efeitos dos canabinóides em pacientes portadores do vírus HIV mostraram que um dos efeitos da maconha medicinal foi o aumento do apetite e consequente ganho de peso.

O que contribui para um organismo mais bem preparado e capaz de suportar os diferentes coquetéis de medicação que são receitados para o controle do vírus no organismo.

Síndrome de Tourette

Em um estudo realizado em 2013, foram avaliados 36 pacientes que receberam 10mg de THC ou placebo por 6 semanas. A severidade dos sintomas reduziu significativamente no decorrer das semanas.

Dessa forma, o uso terapêutico de Cannabis se mostrou eficiente para aliviar sintomas causados pela síndrome. Os sintomas mais comuns são: o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), distúrbios do sono, ansiedade e  depressão.

Glaucoma

O uso da maconha tem se mostrado eficiente para o tratamento das diversas doenças do globo ocular que podem causar cegueira. Em pesquisas, o seu uso foi satisfatório por causar uma diminuição na pressão do globo ocular, amenizando os sintomas da doença.

Epilepsia

Muitos estudos vêm demonstrando a grande aplicabilidade do canabinóide CBD para controlar as convulsões causadas pelas crises epilépticas. Este estudo, realizado em 2016 reportou uma diminuição nas crises de convulsão em crianças tratadas com doses variando de 1 a 20mg de CBD/kg.

Neste outro estudo realizado em 2016, pacientes receberam de  2 a 5 mg/kg de CBD durante um mês, a resposta foi positiva e houve uma diminuição nas crises de convulsão.

Muitas pessoas tem trocado os medicamentos convencionais por tratamentos alternativos para a esclerose. Existem alguns casos que só o CBD foi capaz de amenizar as crises epilépticas e em outros fez com que elas parassem.

A atual situação do uso medicinal da maconha no Brasil

Muitos países estão a frente do Brasil quando se fala na regulamentação do uso da maconha para fins medicinais.

Mas você sabia que aproximadamente 5000 pessoas já têm autorização para importar os produtos derivados da Cannabis? E isso sem falar nas inúmeras famílias que ainda não conseguiram obter a sua licença e continuam fazendo o uso de maneira “ilegal”.

A liberação do uso traz muitos benefícios para as pessoas que dependem do princípio ativo para o tratamento de alguma doença e também encoraja o desenvolvimento de novos estudos para um melhor entendimento dos efeitos da maconha no nosso organismo.

No entanto, aqui a discussão é um pouco mais recente e caminha a passos vagarosos. Em 2014 iniciou-se uma campanha criada por pais de crianças portadoras de epilepsia refratária para que a ANVISA liberasse a importação do óleo a base do canabidiol CBD. Depois de muita luta, já em 2015, a ANVISA liberou a importação desses produtos.

Em 2016, uma outra vitória para os que lutam pela liberação do uso medicinal, foi a regulamentação dos remédios à base de THC e a concessão de licenças para que algumas famílias pudessem cultivar a planta em casa e realizarem a extração caseira do óleo para uso medicinal.

Já em 2017, foi registrado no Brasil o primeiro remédio a base de Cannabis, destinado a pacientes com esclerose múltipla. Como resultado, a maconha acabou sendo incluída na lista de plantas medicinais da ANVISA destinadas a produção de medicamentos de uso controlado.

Alguns obstáculos que envolvem o uso medicinal no Brasil

  1. A maconha ainda é considerada como um tipo de droga ilícita;
  2. Falta de apoio político para melhorar as discussões;
  3. Projetos envolvendo a Cannabis  demoram a ser discutidos e votados;
  4. Existem limitações para desenvolvimento científico;
  5. Ainda existe resistência e preconceito por parte da sociedade e comunidade de médicos que temem ser julgados por prescreverem remédios à base de Cannabis.

A atual situação do uso medicinal da maconha ao redor do mundo

Muitos países aderiram ao uso de maconha medicinal como uma alternativa menos drástica para o tratamento de doenças, o uso da maconha veio para suprir uma demanda por algo mais próximo do natural, que fosse diferente das drogas convencionais e que ainda trouxesse melhorias significativas na vida dos pacientes.

Os resultados superaram as expectativas e a adesão ao uso da maconha medicinal tem aumentado com o passar do tempo, fato que contribuiu para alavancar o debate e diminuir o preconceito com relação a seu uso. Veja abaixo alguns países em que o uso medicinal da maconha foi muito bem aceito:

Israel

O país que foi precursor na regularização, em 1993 liberou o uso medicinal da maconha para o tratamento de inúmeras doenças. O instituto Israelita iCAN é referência em estudos envolvendo a cannabis e desenvolve pesquisa há mais de 30 anos.

A regulamentação trouxe impactos positivos no avanço científico do país em relação a cultura da Cannabis,  e hoje em dia, o país é referência na produção de estudos e desenvolvimento de novas tecnologias.

Canadá

O Canadá regulamentou o uso medicinal em 1999, e desde então a expansão do mercado canábico no país foi incrível. Já são mais de 240 mil pessoas registradas que fazem o uso da planta para fins terapêuticos.

O mercado medicinal de maconha tem movimentado cerca de 5 bilhões de dólares anuais, e agora o país se prepara para a regulamentação do uso recreativo.

EUA

Nos EUA, dos 50 estados 28 já aprovam o uso medicinal da maconha. A mobilização da população americana perante os benefícios oriundos da Cannabis tem sido uma das causas para a recente expansão do seu uso medicinal.

Confira aqui a lista do estados americanos que já regularizaram o uso da maconha.

Na Europa

Pode-se dizer que o velho continente caminha a passos vagarosos quando o assunto é a regulamentação da maconha para fins terapêuticos.

Apenas Áustria, República Checa, Finlândia, Alemanha, Itália, Portugal, Polônia e Espanha autorizam o uso medicinal da maconha.

Apesar de alguns países liberarem o uso recreativo em pequenas quantias como é o caso de: Áustria, Holanda e Itália, a regulamentação medicinal ainda é pouco discutida, por conta de uma descrença por parte da comunidade médica com relação a seus benefícios.

Na América latina

O Uruguai é referência e surge como um dos países com políticas governamentais mais eficientes em termos de regularização do uso medicinal da maconha. No Chile, desde 2016 o uso e comercialização de medicamentos está liberado, um dos únicos problemas é o custo extremamente alto das medicações. Mais recentemente, Colômbia, Peru e México aprovaram leis que regulamentam o tratamento de doenças com o uso da Cannabis.

Essa recente expansão da regulamentação nas Américas tem impactos benéficos nas discussões no Brasil, e já é possível observar uma mudança de opinião da população e uma diminuição no preconceito que envolve a regulamentação do uso de produtos à base de canabinoides.

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